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Acabou de se separar? Toda solidão contém uma oportunidade

Ivan Martins

30/10/2019 00h01

 

E se você enxergar na vida de solteiro novas oportunidades? (iStock)

Descobri, faz alguns anos, que pessoas recém-separadas ficam deslocadas em festas de amigos. Em vez de se divertirem, parecem estar acabrunhadas, embaraçadas por algum motivo.

Acho que o motivo é solidão.

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Uma coisa é estar sem parceiro – ou sem parceira – numa balada em que todo mundo está olhando em volta e procurando companhia. Outra, diferente, é estar avulso num ambiente em que todos parecem ser casais, como a pessoa separada costumava ser.

A  situação estimula sentimentos de estranheza e desajuste, mas não deveria.

Na mesma festa em que gente depara com um amigo perdido – com cara de que entrou no baile sem fantasia – encontra uma amiga que, dois meses atrás, estava do mesmo jeito, apagadinha, mas agora parece até mais feliz do que costumava ser. O tempo passou e as coisas andaram, mudaram, melhoraram.

É bom lembrar que isso acontece.

Gente separada costuma ter a sensação de que o mundo acabou. Elas estão sozinhas e sentem que ficarão sozinhas para sempre. Nunca mais terão um romance, um namoro, um casamento. Nunca mais encontrarão alguém que diga "eu te amo" e as abrace na hora de dormir. Não voltarão a se apaixonar. Olham para o próprio corpo e ele parece uma casa vazia.

As coisas talvez fossem diferentes se as pessoas sozinhas pudessem se ver de dentro como elas são percebidas de fora: gente atraente, bonita, solta.

O fato de estar só não torna um cara menos interessante. Chegar desacompanhada a uma festa não é vergonha para mulher nenhuma. Pelo contrário. Em toda singularidade existe um mistério. Em toda solidão existe uma oportunidade.

Quem não está num relacionamento pode começar uma aventura esta noite, pode conhecer duas pessoas no aplicativo esta semana, pode fazer uma viagem sem companhia no fim do ano, aberta a todos os encontros.

Ou pode ficar na sua, lendo um livro que está na estante desde o ano passado.

Eu sou defensor apaixonado da vida em casal, mas os intervalos entre relacionamentos são períodos imensamente estimulantes. As pessoas fazem coisas muito divertidas enquanto procuram o próximo amor da vida delas.

Claro, há diferença entre ficar sozinho aos 20 e se achar solteiro ou solteira aos 40 anos. As coisas têm outro peso. Sentimentos que antes poderiam ser dissolvidos com leveza no grupo adolescente agora serão digeridos a sós, de forma mais grave. Voltar ao normal talvez demore um pouco mais.

E daí?

A gente sempre soube que a vida ficaria mais séria com a passagem do tempo, mas isso não significa que as novidades acabem ou que as possibilidades se encerrem.

As coisas acontecerão de outra forma, mas continuarão acontecendo – de maneira mais profunda e transformadora, inclusive – desde que as pessoas não fechem as portas que as ligam ao mundo.

A respeito disso, lembro de uma amiga, profundamente despachada, que me aconselhava repetidamente nas minhas separações: "Procura gente solteira, rapaz. Não vai passar a noite em festa de casados, com cara de cu. Passa por lá, toma uma, sorri bastante e depois vai à luta, né"?

Cada um tem seu jeito de ir à luta.

Ficar na festa dos casados, cercado de amigos queridos, pode ser boa opção para quem está precisando de aconchego. É só não se deixar cair na melancolia, não achar que é pior do que os outros porque está sem companhia.

A solidão eventual é inevitável e necessária. Faz parte da formação emocional da gente. Quem nunca passou um bom tempo sozinho nem consegue apreciar o que significa ter alguém ao lado.

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Sobre o Autor

Ivan Martins é psicanalista, jornalista e autor dos livros “Alguém especial” e “Um amor depois do outro”. Irmão mais novo numa família de mulheres, aprendeu muito cedo a fazer xixi erguendo a tampa da privada, e acha que isso lhe fez bem. Escreve sobre relacionamentos desde 2009, tentando entender o que faz do apaixonamento algo tão central à vida humana.

Sobre o Blog

Esta coluna pretende ser um espaço para discutir os sentimentos, as ideias e as circunstâncias que moldam a vida dos casais – e dos aspirantes a casal - no Brasil do século XXI. Bem-vindas e bem-vindos!

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